Crônica ‘Filmes que o tempo levou’ apresenta ‘A Estrela e a Cruz’

Personagens do filme A Estrela e a Cruz de 1960 Foto: Divulgação

Nelson Machado Filho, criador do projeto Luz & Sombras, em Amparo, vai levar aos fãs do cinema pelo do site Rota das Águas incríveis histórias de “Filmes que o Tempo Levou”. Nelson é apaixonado pela sétima arte desde criança e seu projeto na estância do Circuito das Águas Paulista tem como proposta a exibir clássicos das telonas para que as pessoas possam conhecer ou rever gratuitamente.

As sessões das noites de segunda-feira, no auditório da Rádio Cultura FM, no Centro de Amparo, estão temporariamente suspensas por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Mas voltarão em breve. #VaiPassar.

Filmes que o Tempo Levou” – “A ESTRELA E A CRUZ” (sinopse e comentários)

Por Nelson Machado Filho
Duas crianças de 7 anos de idade começam uma bela amizade, apesar das diferenças religiosas de suas famílias. Ao tomarem conhecimento que poderiam ser separados por conta das duas religiões, o menino Michael, católico, e a menina Rachel, judia, imitam um ritual que viram na TV sobre índios que se tornam irmãos de sangue.

Assim, acreditam que ninguém poderá impedir que fiquem juntos e, para testarem o poder contra Deus, eles vão à sinagoga e à igreja católica para ver se seriam castigados.

Caso tudo corresse bem, eles comprovariam que nada poderia impedir a amizade profunda que um sentia pelo outro e fariam tudo o que quisessem sem ter mais medo de punição. Porém um fator surpresa acontece e coloca o garoto sobre uma prova inconteste e ele acredita ter cometido um pecado mortal.

O filme “Estrela e a Cruz” marcou minha infância, nunca consegui tirá-lo da cabeça. Como muitos outros, o assisti pela primeira vez no Cine Amparo. Eu adorei. Contava com 9 anos quando o vi na sessão das 19h do sábado, dia 1º de agosto de 1964. Estava acompanhado de meu pai.

Me lembro que eu havia ganho de presente da Dona Guiomar Campos um terno com calça curta, paletó e camisa manga larga com uma gravata borboleta, muito chique. Estava calçado com sapatos pretos, todo feliz e elegante.

Fiquei tão encantado com o filme que convenci meu pai a me levar para vê-lo novamente na matinê do domingo, para que eu pudesse fazer anotações! Anotei os eventos na trama enquanto eles transpiravam na tela.

O que me lembro sobre o filme agora é o sentimento de que ele capturou perfeitamente a emoção do amor quando a criança o experimenta. O filme permaneceu em minha memória e ficará para sempre. É um filme simples e profundo sobre duas crianças pré-adolescentes na Inglaterra que se tornam amigas.

O fato de o garoto Michael (Philip Needs) ser católico e a garota Rachel (Loretta Parry) ser judia não faz a diferença real até que alguns de seus colegas ao redor lhes digam que sim, isso faz diferença. O interessante é ver que o padre Timothy (John Gregson) e o rabino Benjamin (Derek Sydney), apesar de religiões opostas, aprenderam a respeitar a diversidade um do outro e quando não estavam celebrando o santo ofício, os dois jogavam xadrez. As crianças aprenderam isso também, simplesmente por conviverem, juntas.

As cenas mais emocionantes foram as crianças tentando aderir às tradições umas das outras. Lembro-me particularmente de uma cena em que o garotinho impressionado entra na sinagoga de Rachel pela primeira vez. Ele tira o chapéu com respeito, como faria na igreja.

O rabino sem cerimônia coloca-o de volta em sua cabeça novamente. O filme capta perfeitamente o “estranhamento” e o medo de como as crianças eram ensinadas a se associar com as religiões de outras pessoas não católicas.

Isso teve um efeito profundo em mim. Eu fui criado numa família católica e tinha uma queda por uma garotinha do outro lado da rua. Ela era evangélica e nós tínhamos um vínculo muito especial. Íamos à escola juntos. Lembro-me dela e da nossa preciosa inocência no mundo ao nosso redor. Na minha família não se praticava qualquer tipo de preconceito. Um respeitava o outro.

Além de ser uma história comovente é um filme maravilhoso por si só, a mensagem de “A Estrela e a Cruz” fundamenta a tolerância e o respeito à diversidade. A mensagem não diminuiu ao longo dos anos.

Este filme é uma joia rara da tela. Eu desejo poder exibi-lo em breve no Projeto Luz & Sombras e ainda o mais importante, gostaria que as crianças de hoje pudessem vê-lo. O filme “A Estrela e a Cruz” levou o Globo de Ouro pelo Júri Especial e foi consagrado como um dos mais belos conteúdos do universo infantil no ano de 1961.

Ficha Técnica
Filme
– “A Estrela e a Cruz
Produção – Colúmbia Pictures
Ano – 1960
Direção – Philip Leacock
Elenco – Loretta Parry; Philip Needs; John Gregson; Sybil Thorndike; Finlay Currie; Derek Sydney; Miriam Karlin e Arnold Diamond
Roteiro – Diana Morgan – baseado em uma história de Leopold Atlas
Música – Freddie Young
Direção de arte – Ivan King

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