Crônica ‘Filmes que o Tempo Levou’ retrata o clássico ‘Os Nove Irmãos’

Cena do filme Os Nove Irmãos Foto: Divulgação

A crônica “Filmes que o Tempe Levou” assinada especialmente por Nelson Machado Filho, criador do projeto “Luz & Sombras”, em Amparo, conta a história do clássico “Os Nove Irmãos”, de 1963.

Por Nelson Machado Filho
Especial para o Rota das Águas

Henry Fonda (como Clay Spencer) e a atraente esposa Maureen O’Hara (como Olivia) vivem na “Montanha Spencer” com seus nove filhos, além de um avô e uma avó. Para dar mais espaço à sua grande família, Fonda constrói a “casa dos sonhos” em sua vasta propriedade montanhosa.

Outro sonho da família envolve educação. Parecendo maduro por sua suposta adolescência, o filho mais velho James MacArthur (como “Clayboy”) se torna o primeiro a se formar no ensino médio. Todo mundo espera que MacArthur vá para a faculdade, mas ele precisa aprender latim para a admissão.

O novo pregador da comunidade Wally Cox (como Goodman) ajuda MacArthur, mas existem outros obstáculos a serem superados. A família Spencer é tão grande que a falta de dinheiro é uma grande preocupação.

Eu vi “Os Nove Irmãos” em 20 de dezembro de 1964 no Cine Amparo e estava acompanhado do meu amigo de infância Mário Sérgio Luglio. O tema central é a vida de uma família no meio rural do estado da Virginia na época da grande depressão, crise econômica que atingiu os Estados Unidos e o mundo.

É um filme espetacular, difícil de explicar, mas para alguém da minha geração é muito significativo ver atores como Henry Fonda, Maureen O’Hara, Wally Cox, Virginia Gregg, Lillian Bronson,e Donald Crisp exibindo seus bons talentos nesta trama.

Foi interessante ver o excelente trabalho de James MacArthur antes do “Hawaii Five O”, como havia feito em vários filmes da Disney da época. O cenário é de tirar o fôlego. E a história sempre mantém o interesse. História sentimental de uma família americana simples.

A história de “Os Nove Irmãos” se passa no majestoso cenário do “Parque Nacional de Grand Teton, Wyoming, EUA”, com fotografia do cinegrafista Charles Lawton em Panavision e Technicolor. Earl Hamner Jr., o autor do livro, revelou em 1963 que Delmer Daves queria montanhas mais imponentes para enfatizar o isolamento e a luta dos personagens com o ambiente.

Henry Fonda e Maureen O’Hara, por outro lado, formam um casal ideal, agindo com uma facilidade e familiaridade que proporcionam ao relacionamento uma sensação calorosa e confortável. Fonda encarna especialmente o inculto e incansável Sr. Clay, sempre disposto a lutar e se sacrificar para que sua família possa desfrutar de uma vida mais rica e próspera.

Sem dúvida, Fonda é a alma da “Montanha Spencer” e seu retrato natural e maravilhosamente sombreado evita que a família perca a dignidade. Um de seus projetos a longo prazo é uma casa dos sonhos situada em uma colina idílica com vista para o vale e a grandeza das montanhas.

Uma cena marcante para mim foi quando Clay e sua família vão solicitar um empréstimo por causa das dificuldades que interferem em suas vidas por conta da crise e isso é negado. Cena muito triste.

Henry Fonda ao longo de sua carreira mostrou um grande talento para interpretar personagens rústicos e dotá-los de dignidade. Habituado ao teatro e à inerente projeção da voz, Fonda foi alertado pelo realizador Victor Fleming que tinha de se conter e movimentar-se com mais sutileza.

O ator aprendeu a lição: A câmera simbolizava o olhar do espectador mais próximo. Nunca precisaria de grandes indicações por parte de realizadores, aprendia depressa e era um talento original. De ar circunspecto, sem espalhafato, aparentava ser mais inteligente que Gary Cooper, mais virtuoso que Clark Gable ou mais esquivo que Spencer Tracy.

Fonda era simples, mas não era simplista nem simplório. Era um ator e um homem complexo. Com esta estranha combinação fez muito sucesso em Hollywood.

Durante da Segunda Guerra Mundial serviu na Marinha, e, de volta a Hollywood, estrelou um filme de John Ford “Sangue de Herói”, antes de voltar ao teatro, com dedicação exclusiva. Durante muitos anos, Henry Fonda representou a peça “Mister Roberts” que, quando virou filme, provocou seu rompimento com Ford.

Fonda tinha sua concepção do personagem que representara durante anos, e não era a mesma do cineasta. Brigaram no set, Ford foi substituído por Mervyn LeRoy. Antes de “Mister Roberts”, Fonda retomara a carreira no cinema com “Doze Homens e uma Sentença”, num personagem liberal com a cara dele.

Seguiu a sua carreira maravilhosa no cinema com filmes de King Vidor (“Guerra e Paz”), Alfred Hitchcock (“O Homem Errado”), Anthony Mann (“O Homem dos Olhos Frios”), Otto Preminger (“Tempestade sobre Washington” e “A Primeira Vitória”), Richard Fleischer (“O Homem que odiava as Mulheres”), Sergio Leone (“Era uma vez no Oeste”) e Joseph L. Mankiewicz (“Ninho de Cobras”) e muitos outros. Henry Fonda faleceu aos 12 de agosto de 1982, em Los Angeles, Califórnia, EUA.

Importante nome da história do cinema Maureen O´Hara ficou conhecida como “rainha do Technicolor” porque quando o processo começou a ser usado, nada parecia mais impactante do que seus cabelos ruivos.

De acordo com o jornal “The New York Times”, um crítico chegou a escrever em 1950: “Em Technicolor, O’Hara parece significar mais do que um sol se pondo”. Ela foi uma das atrizes mais bonitas da era dourada de Hollywood e, apesar de ter feito vários filmes antes, foi com o Technicolor que ela foi descoberta em todo o seu esplendor.

Sua carreira cinematográfica começou em Londres com Charles Laughton em 1938, onde ela fazia sua primeira participação num filme “Ao redor da Lua”. No ano seguinte faria “A Estalagem Maldita”, de Alfred Hitchcock. O primeiro de seus maiores sucessos foi em “O Corcunda de Notre Dame” onde interpretou a bela Esmeralda.

Em vários filmes com John Wayne, ela se especializou nos papéis de uma mulher corajosa e mal-humorada em cenas de aventura marítimas ou ocidentais. Outros filmes de sucesso foram “Como era verde o meu Vale” (1941), “A Paixão de uma Vida” (1955), “Rio Grande” (1950) e “Depois do Vendaval” (1952).

Maureen foi casada três vezes e teve uma única filha, Bronwyn FitzSimons. A atriz foi homenageada com um Oscar Honorário em 2014. Faleceu no dia 24 de outubro de 2015 em Boise City, Idaho, EUA. Segundo familiares, a atriz morreu tranquilamente enquanto dormia.

A filha de Maureen O’Hara, Bronwyn FitzSimons, desempenha o papel de secretária do reitor da faculdade onde James McCarthur deseja ingressar. A neta do diretor Delmer Daves, Michele Daves, fez sua única aparição no cinema neste filme, no papel de uma criança mais nova de Spencer, o bebê Donnie.

Neste filme James MacArthur vive o personagem Clayboy Spencer. Ele fez a sua estréia no cinema em 1957 com o drama “No Labirinto do Vento”, mas tornou-se conhecido ao interpretar o personagem Danny “Danno” Williams na versão original da série “Hawaii Five-0”, na década de 1970, além de grandes interpretações ao longo de sua carreira, na televisão e no cinema. Faleceu no dia 28 de outubro de 2010, aos 72 anos de idade.

Os Nove Irmãos” foi baseado no romance autobiográfico de Earl Hamner Júnior e gerou a amada série de TV “Os Waltons” e apresenta todos os seus familiares ingredientes. Uma família pobre com nove filhos lutando para sobreviver, ambiente rural, avós, filho mais velho talentoso, mãe chamada Livvie, crises na maioridade e a lista continua.

Até o famoso ritual de “boa noite” está presente neste filme. Os nomes podem ser diferentes (não há Mary Ellen, Jason ou Jim-Bob), mas a indelével casa escura e com uma lâmpada acesa na janela do andar de cima é emoldurada exatamente como seria na televisão dez anos depois.

Em 1974 estreava na Rede Globo o seriado “Os Waltons”, que fora baseado no filme “Os Nove Irmãos”, de 1963, e eu não perdia um só episódio. A série foi considerada uma das melhores com temas dramáticos. As histórias são calorosas e enriquecedoras, valorizam a importância da família, da união, do crescimento como ser humano. Os episódios são singelos e envolventes, e os personagens, cativantes. Foram filmadas nove temporadas com 221 episódios.

Em 1985 a TV Record exibiu somente as duas primeiras temporadas. Também foi apresentado recentemente na Rede Brasil de Televisão.Os episódios são narrados por John Boy, o protagonista, que já na abertura surge à janela, escrevendo. Ele é o observador de tudo e nossa ligação com aquele mundo. O tema de abertura é muito bonito.

Quem assistiu à série “A Família Walton”, deve se lembrar do final de cada episódio. Na famosa cena que aparece á casa da família, mostrada com as luzes apagadas durante o anoitecer, menos uma janela no andar superior e na hora em que os personagens iam dormir se ouve: “Boa noite, John Boy”, “boa noite Mary Ellen”. Essas foram ás frases que marcaram esse grande sucesso dos seriados de TV e às tardes de sábado nunca mais foram ás mesmas.

E voltando ao “Os Nove Irmãos”, digo que é um filme muito agradável, divertido e emocionante. Henry Fonda e Maureen O´Hara fizeram um trabalho maravilhoso. Foi bem produzido para o público em 1964.

Mesmo com seu tom excessivamente sentimental, ele tem uma salubridade e um respeito pelos valores da vida que agradarão aos espectadores de qualquer época. Não foi lançado ainda no Brasil em DVD ou no formato Bluy Ray, mas é possível encontrar cópia alternativa no Mercado Livre.

Ficha técnica
Filme – “Os Nove Irmãos
Direção – Delmer Daves
Produção – Warner Bros
Ano – 1963
Elenco – Henry Fonda, Maureen O’Hara, James MacArthur, Donald Crisp, Wally Cox, Mimsy Farmer, Virginia Gregg e Lillian Bronson
Roteiro – Delmer Daves, filme baseado em um romance homônimo de Earl Hamner, Jr.
Produção – Delmer Daves
Música – Max Steiner
Cenografia – Ralph S. Hurst Figurino – Marjorie Best
Fotografia – Charles Lawton Jr.

 

 

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