‘Filmes que o Tempo Levou’ acelera com ‘Grand Prix’

Grand Prix é o filme da semana na coluna Filmes que o Tempo Levou Foto: Divulgação

A coluna “Filmes que o Tempo Levou“, assinada por Nelson Machado Filho, traz o retrato do mundo do automobilismo através do filme “Grand Prix“, ganhador de três Oscar. A obra cinematográfica é de 1966. Boa leitura a todos!!!

Por Nelson Machado Filho
Especial para o Rota das Águas

No passado, as corridas de automóveis, em especial a Fórmula 1, não eram um esporte tão popular no Brasil. O cenário começou a mudar quando Interlagos, em São Paulo, passou a receber a Fórmula Ford e a F-2 no início dos anos 1970.

Porém, a consagração da pista viria em 1972, com a realização da primeira corrida de Fórmula 1. Mesmo sem fazer parte do calendário oficial e sem contar pontos para o campeonato, a prova foi um sucesso de público. Em 1973, já incluso no círculo da F1, a corrida foi vencida por Emerson Fittipaldi, então atual campeão mundial e piloto da Lotus.

No ano seguinte, nova vitória do brasileiro, que já estava na McLaren. Fechando a trinca de triunfos brasileiros na pista, José Carlos Pace, com a Brabham, foi o vencedor em 1975, com Fittipaldi em segundo. Essa foi a única vitória de Pace na F1, já que ele morreu dois anos depois vítima de um acidente aéreo. Como homenagem ao piloto, o autódromo recebeu seu nome em 1985.

Em 1989, uma reforma drástica foi iniciada na pista de Interlagos, para que ela voltasse a receber a F1 em 1990. Dessa forma, o autódromo passou a ter o formato atual, com a pista reduzida para 4.309 metros.

Até Ayrton Senna ajudou na reforma, sugerindo que fosse feito um S para unir a reta dos boxes com a curva do Sol. Como homenagem, o trecho foi batizado de S do Senna, sendo um dos símbolos do traçado.

Desde então, a F1 não saiu mais da pista paulista e o público pôde ver de perto mais quatro triunfos brasileiros, com duas vitórias de Senna (1991 e 1993) e mais duas de Felipe Massa (2006 e 2008).

O Autódromo Internacional José Carlos Pace, em Interlagos (SP), ganhou, no dia 12 de maio de 2020, um enorme painel temático. No dia em que completou 80 anos, a praça esportiva eternizou um de seus mais importantes personagens: o piloto Ayrton Senna.

E hoje vou fazer um comentário sobre um filme que marcou época e eternizou a Fórmula 1. Uma superprodução que ainda não foi superada no gênero.

Sinopse e comentário
No Grande Prêmio de Mônaco Pete Aron (James Garner), um piloto americano que dirige uma Jordan-BRM, tem problemas na caixa de câmbio e faz seu carro mergulhar no mar. Porém o fato mais grave foi ter ferido seriamente o piloto inglês Scott Stoddard (Brian Bedford), seu companheiro de equipe.

Este acidente provoca a demissão de Aron, que é contratado pela equipe japonesa Yamura. Durante a recuperação de Stoddard, sua mulher, Pat (Jessica Walter), se envolve com Aron e parece determinada em deixar Scott. Paralelamente o piloto francês Jean-Pierre Sarti (Yves Montand) e o piloto italiano Nino Barlini (Antonio Sabato), ambos da Ferrari, se envolvem com Louise Frederickson (Eva Marie Saint), uma jornalista americana, e Lisa (Françoise Hardy), uma bela jovem.

O filme também tem a participação de grandes nomes da F1 da época, como Phil Hill e Graham Hill, que também ajudaram a gravar cenas a bordo dos veículos. No caso do personagem Scott Stoddard, vivido por Brian Bedford, quem gravou algumas das cenas reais foi o piloto Jackie Stewart.

E é por isso que o piloto sempre aparece com uma espécie de máscara nas cenas de corridas. Na época, o acessório era usadao para não acabar com a cara preta de fumaça e sujeira, mas no filme ela foi conveniente para ocultar o rosto dos pilotos de verdade que serviram de dublês.

James Garner foi à escola de pilotagem para atuar no filme, e é por isso que ele é o único piloto que aparece de cara limpa acelerando para valer nas cenas de ação. Foi o primeiro filme a cores de John Frankenheimer, que até aquele momento, só havia realizado filmes em preto e branco, e ao se deparar com tal história, sentiu a necessidade de passar o maior realismo possível para a tela.

Para isso, ele filmou em diversos em ângulos, com telas divididas, cortes precisos e sempre recusando a ideia de filmar os carros andando devagar e posteriormente aumentar a velocidade das cenas rodadas, pois afirmava que o público perceberia o truque e ele queria realismo e vibração. E parece que estamos dentro da pista com os pilotos numa corrida surpreendente e cheia de suspense.

Por conta disso, o filme, já em sua sequência de créditos iniciais, criada pelo lendário Saul Bass, nos apresenta imagens inovadoras para a época. Inovador, também, em sua fotografia, foi um dos últimos filmes idealizados e exibidos no formato Cinerama Super Panavision 70, onde três projetores, simultaneamente, projetavam três imagens em uma tela grande e curva em um ângulo de 146º.

Ademais, toda a parte técnica do filme merece aplausos, desde o design de som, com os roncos ensurdecedores dos carros, passando pela montagem rápida e precisa, que adiciona, sobretudo nas cenas de corridas, um ritmo ágil ao filme. Até a inspirada trilha sonora do veterano Maurice Jarre merece destaque. Algumas pontuações feitas na trilha sonora nos fazem recordar do filme “Doutor Jivago”.

Confiante, Garner dispensou dublês e decidiu guiar os carros (que eram modelos de Fórmula 3 caracterizados como Fórmula 1) mesmo nas cenas mais perigosas, como no acidente do GP de Brands Hatch, quando seu carro pega fogo. Mais adiante no filme, é possível ver uma cicatriz no pescoço de Garner. Ela foi causada na gravação do acidente e por conta disso a seguradora cancelou a apólice do ator, que fez os últimos 45 dias de filmagem sem cobertura.

Enquanto todos os atores passaram por treinamento de condução de carros de corrida, esse foi um desafio especial para Brian Bedford e Antonio Sabato, que nunca haviam dirigido nenhum carro antes e eles foram dublados por pilotos da Fórmula-1.

No elenco contamos com a presença feminina da atriz Eva Marie Saint, que interpreta Louise Frederickson. Já Jessica Walter é Pat Stoddard. A atriz Geneviève Page vive Monique Delvaux-Sarti.

Françoise Hardy interpreta a personagem Lisa. Ela é uma cantora e compositora francesa bastante popular, principalmente durante os anos 1960, quando foi uma das maiores representantes da música jovem francesa. Ela foi uma das mais bem-sucedidas, elogiadas e influentes artistas francesas do Século XX.

De acordo com John Frankenheimer, o personagem interpretado por Jessica Walter foi baseado em Louise Collins, uma atriz que se casou com o piloto britânico Peter Collins, morto na pista em 1958, apenas um ano após o casamento.

Tecnicamente, este filme é uma conquista e tanto. O filme, portanto, é de grande importância na história do cinema. Também uma das coisas poderosas neste filme é que tudo é real. Sem carros em miniatura ou gerados por computador e com pilotos experientes em cenas reais.

Há uma imensa diferença entre as corridas do grande prêmio de 66 e a atual Fórmula 1 em termos de regras, carros e principalmente regulamentos de segurança. Nesse sentido “Grand Prix” parece ser um filme com aparência já ultrapassado e antiquado, pelos padrões de hoje.

Mas de certa forma, fala muito mais à nossa imaginação, talvez por causa do motivo de que este esporte parecia ser muito mais perigoso naquela época, torna o filme muito emocionante. “Grand Prix” tinha 190 minutos de duração em sua versão original, mas foi reduzido para 179.Ganhou o Oscar nas categorias montagem, som e efeitos sonoros.

Ficha técnica

Filme – “Grand Prix
Direção – John Frankenheimer
Produção – Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Ano – 1966
Elenco – James Garner, Eva Marie Saint, Yves Montand, Toshirô Mifune, Brian Bedford, Jessica Walter, Antonio Sabato, Françoise Hardy, Adolfo Celi e Geneviève Page
Roteiro –  Robert Alan Aurthur
Música – Maurice Jarre
Fotografia – Lionel Lindon
Figurino – Sydney Guilaroff

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