Hoje em “Filmes que o tempo levou” comento mais um filme que marcou a minha infância, dentre muitos outros. Selecionei “O avião-foguete X-15”. Lembro-me que o filme foi exibido nos dias 21 de dezembro de 1963 (um sábado), nas sessões das 19h e das 21h, e no dia 22, domingo, na matinê das 14h30, no Cine Amparo.
Por Nelson Machado Filho
Na entrada do cinema tinha um enorme cartaz com uma foto gigantesca do X-15, confeccionado e pintado pelo mestre Nelson Moraes com os seguintes dizeres: “X-15 O avião-foguete que desafiou o espaço sideral! Realmente filmado no espaço!”
Naquele tempo tínhamos todo um ritual para irmos ao cinema. Tanto meu pai como eu chegávamos bem cedo, pelo menos uns 20 minutos antes do início da sessão. E era por motivo de força maior. Tanto eu, como ele; gostávamos de ouvir ás músicas que tocavam enquanto esperávamos a exibição do espetáculo.
Lembro-me que quando entramos na sala de exibição estava tocando a música “Quando ti stringi a me”, cantada por Caterina Valente.Na sequência tocou “Blue Star “, com The Shawdons, e, depois, “African Beat”, com a orquestra de Bert Kaempfert, músicas que ainda ouço com muita atenção e nostalgia.
Então as cortinas se abriram e na tela foram exibidos trailers dos filmes que seriam exibidos durante os próximos dias e também o Canal 100 de Jean Manzon. Logo depois, em Panavision, apareceu na tela do Cine Amparo “O Avião Foguete X-15”.
Sinopse
Durante a Guerra Fria, na década de 1960, a NASA testou a aeronave experimental X-15, movida por foguete, que estabeleceu recordes de altitude e velocidade e atingiu a borda do espaço sideral. Os experimentos X-15 foram conduzidos na base da Força Aérea de Edwards.
O projeto foi gerenciado pelo coronel da Força Aérea dos EUA Craig Brewster e pelo cientista Tom Deparma. Os principais pilotos de testes eram Matt Powell, coronel Lee Brandon e major Ernest Wilde. Durante os voos de teste, a aeronave X-15 era lançada a partir de um avião B-52 antes de iniciar seu voo autônomo.
Toda a equipe de teste estava entusiasmada com o projeto. Mas contratempos e desastres colocaram em risco a vida dos pilotos que deixavam suas esposas angustiadas.O filme foi rodado em tom de semidocumentário com a narração de James Stewart e foi produzido com uma meticulosa revisão de roteiro com detalhes técnicos fornecidos pela NASA e pela Força Aérea dos Estados Unidos.
As cenas que mostram os artistas em ações de voo rumo ao espaço são precisas e parecem reais. Eles tiveram que estudar primeiro o manual de voo do X-15, com alta precisão técnica de acordo com os padrões da época e depois o roteiro do filme.
Normalmente, filmes como esse usariam algumas imagens de arquivo de padrão de aviões voando, mas no “X-15” é mostrado com alguns grandes e perspicazes momentos no ar através da perspectiva dos pilotos.
O filme conta com a presença de Charles Bronson, que na época era pouco conhecido do público. E tem também o ator David McLean, que não é o vocalista brasileiro dos “The Trepidants”, que fez muito sucesso com suas músicas no Brasil.
O seu nome verdadeiro é José Carlos Gonzalez e é um compositor e cantor brasileiro, cujo repertório cantado em Inglês foi muito bem-sucedido na década de 1970. Já o David McLean do filme “X-15” ficou famoso e muito conhecido no Brasil por ter participado das propagandas dos cigarros Marlboro.
O filme conta ainda com a participação da atriz Mary Tyler Moore que ficou famosa numa série de TV nos anos de 1960. A direção coube a Richard Donner, um americano diretor de cinema e produtor aposentado de cinema e televisão.
Donner tornou-se famoso por dirigir o primeiro filme moderno do “Superman” em 1978, estrelado por Christopher Reeve. O “X-15” foi o primeiro filme dirigido por ele. Algumas figuras populares do cinema norte-americano foram convidadas para produzir esse projeto cinematográfico.
Entre eles Howard W. Koch como produtor executivo e também Tony Lazzarino, Henry W. Sanicol, Frank Sinatra e Gleen Ford, que não aparecem nos créditos do filme original.
A história toda foi contada de tal maneira que quase parece um documentário que você está assistindo, completo com muitos detalhes técnicos e informações básicas sobre o X-15 e suas missões.
Não é surpresa que o filme tenha sido feito com a ajuda do programa espacial e da força aérea. De certa forma, essa obra fazia uma propaganda do poderio aéreo norte-americano para fazer frente aos russos, que também tinham iniciado os seus projetos para a corrida espacial, o que colocava em risco a supremacia militar dos Estados Unidos da América. Só fui perceber isso 14 anos depois.
Mas em 1963, fiquei encantado com o X-15 e ao sair do cinema falei para o meu pai que gostaria de ganhar de presente no Natal um avião X-15 e ele nada falou. Estava chegando o Dia de Natal. Fui dormir pensando nas cenas do filme.
Chegou o Dia de Natal. Bem cedo ao acordar ao lado da minha cama tinha um pacote muito bonito, numa embalagem maravilhosa. Saltei da cama e ao abri-lo fiquei muito surpreso. Era um protótipo do avião X-15 e igualzinho ao do filme. Que maravilha!!!
Abracei e agradeci o meu pai e a minha mãe. Tomei o meu café da manhã e fui para a rua pilotar o meu avião-foguete X-15. Este assunto dá uma nostalgia enorme. Não existe fase melhor do que a infância. É quando colecionamos histórias que ficam guardadas na memória e no coração para a vida toda.
Nada como ter um passado bom para relembrar, uma infância da qual valeu a pena ter vivido. Lá no meu tempo eu conheci pessoas fascinantes, assisti e contemplei filmes maravilhosos.
Através do cinema experimentei gostos, conheci países, povos, história, geografia e viajei para lugares longínquos e fui muito feliz. Por isso, quando vejo a juventude de hoje, sinto uma saudade enorme das coisas que ninguém hoje mais faz, como se reunir na rua, para brincar de esconde-esconde, de mocinho e bandido, construir um forte apache, voar no X-15 e inventar maneiras de se divertir.
Ficha Técnica
Filme – “O avião-foguete X-15”
Produção – United Di Artists
Ano – 1961
Direção – Richard Donner
Elenco – David McLean, Charles Bronson, Ralph Taeger, Brad Dexter, Mary Tyler Moore, Patricia Owens, Lisabeth Hush e Stanley Livingston
Narração – James Stewart
Roteiro – James Warner Bellah e Tony Lazzarino
Música – Nathan Scott
Fotografia – Carl E. Guthrie
