Luiz Américo canta para amigos em Serra Negra

Sambista dá show em Serra Negra
Cantor Luiz Américo faz show em Serra Negra em plena segunda-feira à noite

Em Serra Negra o dia a dia funciona assim. As pessoas deixam o trabalho debaixo de chuva, atravessam a praça  e ouvem uma voz conhecida. É camisa 10 da Seleção, iá, iá, iá. Dez a camisa dele, quem é que vai no lugar dele…”.

Com os olhos fixos no palco, os curiosos chegam a duvidar, pois trata-se de uma segunda-feira, mas logo percebem que o dono do tom afinado é nada mais, nada menos, que Américo Francisco Filho. Ou, simplesmente Luiz Américo no auge de seus 70 anos, quarenta de carreira.

Mas por que Luiz Américo estaria aqui? A verdade é que o cantor e compositor, que ganhou fama na metade dos anos 70, veio a Serra Negra para atender o pedido do amigo, a quem chama de irmão, Fernando Saragiotto, o conhecido Saracura.

A estância recebe esta semana o “Caminhão da Sorte”, que faz ao vivo os sorteios das loterias da Caixa Econômica Federal (CEF). E Saracura ficou encarregado de organizar os shows que servem para entreter o público enquanto os seis globos cheios de bolinhas numeradas não giram para fazer alguns felizardos Brasil afora.

Amigo pessoal do sambista, o comerciante serrano não perdeu tempo e chamou o cantor para dar uma “palhinha” ao lado do grupo da cidade conhecido como Samboêmios. Foi assim que a segunda-feira chuvosa ganhou cor na bela cidade, que há semana fechou seu concorrido Carnaval.

“Não poderia deixar de atender ao convite do meu amigo, meu irmão. Desde que cheguei a Serra Negra fui muito bem recebido. Só tenho amigos aqui”, conta Luiz Américo ao Rota das Águas pouco antes da apresentação.

O cantor diz que se considera filho de Serra Negra. Ele conta que há 12 anos teve um problema de saúde, sem revelar qual, e encontrou na estância sua cura. Comprou uma casa e, agora, divide seu tempo entre o Guarujá e a cidade do Circuito das Águas.

“Adoro este lugar. Toda vez que posso, fujo para cá”, explica. Quem imagina que Luiz Américo sumiu ou caiu no ostracismo, engana-se profundamente. Há 23 anos ele https://www.rotadasaguas.com.br/wp-content/uploads/2022/02/socorro-rota-das-aguas.jpgistra sua casa de shows no Guarujá, no Litoral Paulista, a Lucky Scope.

No cardápio, feijoada. No repertório, o samba. As atrações: Luizinho, Sandro Mastellari e Rodrigo Francisco, os filhos do sambista, que formam o Grupo Feitiço. Orgulhoso pela família que seguiu seu caminho, o pai, Luiz Américo, também se apresenta.

A casa fica lotada aos sábados e atrai personalidades do samba e do futebol. Não é raro, por exemplo, encontrar Pelé por lá. Foi exatamente a ausência do Atleta do Século na Seleção Brasileira, que participou da fracassada campanha Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, que transformou a carreira de Luiz Américo. O sucesso “Camisa 10”, para alguns, é uma crítica ao fraco futebol da equipe de Zagallo.

“Pelé é muito meu amigo. Tem um problema de coluna, mas vai levando a vida”, comenta, sem se aprofundar no assunto. O cantor e compositor ainda carrega em seu currículo outras canções de sucesso, hits que embalaram a programação das rádios do Brasil e do exterior nas décadas de 70 e 80.

Entre os destaques estão Desafio, mais conhecida pelo refrão “Cuca cheia de cachaça”, que foi a primeira grande obra. Depois, “Fio da véia”, “Carta de alforria”, “Casa cheia”, “O gás acabou” e “Na hora da sede”, entre outros, projetaram o artista.

Longe de parar

Serra Negra traz Luiz Américo
Sambista anuncia novo CD durante show em Serra Negra na noite de segunda-feira

Luiz Américo parece ter  se preparado bem psicologicamente para enfrentar a distância dos holofotes da grande mídia. “Hoje me apresento onde e para quem eu gosto”, ressalta.

O sambista não faz ressalvas para sua carreira e parece não ter arrependimentos. “Sou abençoado por tudo o que conquistei. Tenho minha família, meus negócios e convites para shows. As próximas apresentações serão em Florianópolis, em Santa Catarina, e Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ah, também tenho shows agendados na Paraíba”, enumera.

Com 40 LPs gravados e ao menos 15 CDs, Luiz Américo avisa que volta aos estúdios nas próximas semanas. “Vou gravar mais um. Serão seis faixas inéditas e seis clássicos. Não vou adiantar mais nada. É segredo. Também não vou te dizer o nome”, avisa sorrindo.

De acordo com sambista, o mundo da música mudou. “Hoje apenas os shows dão algum dinheiro. Os CDs servem apenas como divulgação do trabalho”, comenta.

Luiz Américo também mostra satisfação pelo reconhecimento graças à vitoriosa carreira. Vários de seus sucessos surgem na voz de uma outra geração de cantores, entre eles Marcelo D2 e Zeca Baleiro. “Zélia Duncan também gravou uma composição minha. É muito gratificante”.

O sambista boa-praça também faz críticas. Diz que as gravadoras são as culpadas pelo atual estágio em que vivem. “Cavaram a falência. Sempre ganharam muito em cima do artista e, agora, isso acabou”, desabafa.

E lá vem mais críticas. Sobrou para a atual fase da música brasileira. “Hoje ninguém faz letra, não contam histórias. Uuu, ôôô e pronto”, dispara. Sobre parar de cantar: “Só quando Deus não me permitir mais”, finaliza, enquanto caminha com o inseparável violão rumo ao palco.

 

 

 

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